A participação do movimento sindical nos processos de Cooperação Sul-Sul e triangular

Movimento sindical deve disputar e influenciar processos de Cooperação Sul-Sul e triangular



A participação do movimento sindical nos processos de Cooperação Sul-Sul e triangular pautou os debates desta quarta-feira (29) durante o seminário organizado pela CSI (Confederação Sindical Internacional) e CSA (Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas), com apoio a CUT.
Para Artur Henrique, secretário-adjunto de Relações Internacionais e coordenador do Instituto de Cooperação Internacional da CUT, é papel do movimento sindical se apropriar do tema, disputar e influenciar todos os processos que envolvem cooperação entre países. “Temos que fazer um contraponto ao modelo burocrático de cooperação que leva em conta apenas aprimoramento do comércio e a lucratividade com exploração dos trabalhadores e exigir compromissos e contrapartidas que garantam trabalho decente, liberdade sindical, negociação coletiva e respeito aos direitos humanos.”
Um dos objetivos do Seminário é estabelecer uma agenda comum com normas e princípios, para que assim, o movimento sindical internacional possa pressionar seus respectivos governos a garantir uma cooperação justa e solidária, que traga avanços concretos para a população de ambas as partes.
“Este é um grande desafio, já que todas as relações internacionais são pautadas por interesses. A partir desta concepção, o movimento sindical deve construir seus princípios, aproveitando cada oportunidade para influenciar os rumos das políticas que os governos vêm implementando”, declarou Kjeld Jakobsen, ex-dirigente da CUT e consultor em Relações Internacionais.
Victor Báez, secretário geral da CSA, recordou que a conjuntura apresenta processos democráticos recentes, exceto em Honduras e Paraguai, o que abre um espaço maior para participação sindical. Mas nem sempre foi assim. “Estamos numa situação diferente da vivida nas décadas de 70 e 80, onde a cooperação sindical estava restrita apenas a luta pela democracia. Hoje, lutamos pelo aprofundamento da democracia e pelo avanço de um modelo sustentável”, destacou.
“Independente da ascensão de governos progressistas, não significa que automaticamente teremos uma cooperação aberta ao sindicalismo. É importante também que se fortaleça a política de cooperação sindical no plano nacional, continental e mundial, com maior capacitação e formação dos atores sociais, que nos permita também disputar com os governos o modelo de cooperação”, complementou o dirigente da CSA.
Cooperação China-África: desacato às leis e exploração dos países africanos
Durante o Seminário foi aberto um espaço para discussão sobre o processo de cooperação entre a China e os países africanos. Em comum, a certeza de que os benefícios são institucionalizados apenas entre os governos dos países envolvidos e empresas chinesas. Para a população local, desrespeito aos direitos humanos, as normas sociais e trabalhistas, desemprego, fome e pobreza.
José da Costa, da central sindical KSTL do Timor Leste, afirmou que a política de cooperação da China em seu país se resume a exportação de matéria prima e mão-de-obra do país asiático e exploração das riquezas naturais do Timor Leste. Em um país com mais de um milhão de habitantes, onde menos de 10% de trabalhadores estão na ativa, existem cerca de sete mil chineses fazendo o trabalho da população local. “Há um grande problema de desemprego e precisamos debater e discutir como o governo deve acalentar esta mão-de-obra que está exclusa do mercado de trabalho. Infelizmente, os efeitos desta cooperação já trouxe muitos impactos negativos às nações africanas” lamentou.
Na República Democrática do Congo, por exemplo, há uma forte presença das empresas chinesas. O movimento sindical local buscou o diálogo com estas corporações, mas enfrentou forte resistência. A maioria dos operários que trabalham no setor de infraestrutura são chineses. “E com essa presença chinesa como vamos reduzir minimamente o desemprego e ter trabalho decente se a sindicalização não é aceita nas empresas?”, indagou Annick de Ruyer, da Confederação Sindical do Congo.
Para Antonio Tuja, co-presidente da BetterAid, apesar da independência dos países, esta forma de cooperação pode ser considerada um processo de colonialismo, no sentido da exploração dos recursos e do trabalhador.
Na África do Sul, onde o setor informal é muito grande, a China traz artigos manufaturados junto com a mão-de-obra, acabando com a indústria nacional, com os postos de trabalho e o progresso local. “Precisamos encorajar e buscar uma cooperação onde todos sejam beneficiados”, afirmou Zanele Matebula, da central sindical Cosatu.
Mamadou Faye, representante da CSI, relatou a construção recente de um grande teatro no Senegal fruto da cooperação com a China, onde todo material e quase toda mão-de-obra foi exportada do país asiático. “Os beneficiários deveriam ser muito mais cautelosos ao receber ajuda de países como a China. Nossas nações devem se inspirar em alguns países intermediários do sul que têm feito uma política de cooperação com benefícios ao povo e envolvimento do movimento sindical e das organizações da sociedade civil na construção das políticas.”
Outras experiências
O Seminário internacional conta com a participação de dirigentes sindicais de entidades dos cinco continentes. Na tarde desta quarta, foram convidados alguns dirigentes para que pudessem expor as iniciativas de cooperação sindical em seus respectivos países.
Pela CUT, Antonio Lisboa, diretor executivo, falou sobre os termos de cooperação da central com outras entidades, pautado pelos princípios de solidariedade e justiça social.
A Central possui hoje projetos de cooperação sobre formação e comunicação sindical com a Angola, Cabo Verde, Honduras, Chile, Paraguai e Haiti (CNTE e CUT) .
Atualmente, a CUT está organizando um projeto em Moçambique para a organização sindical dos/as trabalhadores/as domésticos/as e de formação em segurança de trabalho com países da África de língua portuguesa. Este último, é o primeiro projeto em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação e com a OIT. “Temos ainda a necessidade de o governo brasileiro estabelecer regras mais claras e objetivas, potencializando a necessidade de cooperação internacional”, sustentou Lisboa.
Expuseram também suas experiências Lee Induk, da central sindical coreana FKTU; Rekson Silaban, da central sindical KSBI da Indonésia; Zanele Matebula, da central sindical Cosatu da África do Sul; Maressa La Roux, da central sindical CGSLB da Bélgica; José da Costa, da Central Sindical KSTL do Timor Leste; e Bernardo Rojas, da CUT-Autentica do Paraguai.
Fonte : CUT

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